sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O que mudou depois da mochila

Pode parecer clichê ou lugar comum dizer que depois que comecei a viajar, principalmente sozinha, mudei o modo de ver as coisas, mas é a mais pura verdade! 
Se você perguntar a viajantes de qualquer país, idade e sexo, cada um vai te dar uma lista com uma infinidade de mudanças que as trips proporcionaram em suas vidas e eu gostaria de compartilhar algumas que eu percebi em mim:

Mudei meu modo de ver o mundo

Claro que não foi o mundo que mudou! Ele continua exatamente igual, as flores desabrocham, o sol nasce e se põe todos os dias o mar continua indo e vindo, nuvens, estrelas, a lua e suas fases cada animal, o milagre da vida, enfim... Tudo que sempre me encantou e fascinou na natureza continua exatamente igual. Então o que mudou?

Meu olhos mudaram. Hoje as nuvens me encantam não somente quando estou voando acima delas, basta uma simples olhadinha pro céu e presencio um espetáculo dinâmico e inédito. 
É muito bom assistir um nascer ou um pôr do sol na montanha ou numa praia paradisíaca, mas hoje cada vez que tenho a oportunidade de saudar o astro rei indo ou vindo é singular! Contemplo cada pequena nuance de cores até que o céu seja revestido da noite e adornado com a lua e as estrelas, e isso acontece em momentos inesperados, quando estou mal humorada por ter que acordar antes do sol ou voltando cansada pra casa.
Sempre detestei dias chuvosos mas depois de encarar uma viagem que poderia ter sido estragada pela chuva (mas não foi porque decidi curtir mesmo com chuva), passei a ver beleza no cinza do céu, a me maravilhar com o contato da chuva com meu corpo, sentir o delicioso cheirinho de terra molhada... Hoje preciso de muita concentração e força de vontade pra abrir o guarda chuva e te digo só o faço, muitas vezes por causa de eventuais objetos que esteja carregando e não possa molhar, caso contrário, nada melhor que caminhar na chuva!
Em viagem podemos fazer fotos de paisagens deslumbrantes, mas se não tivermos bons olhos pra apreciar a natureza ou o que resta dela no dia a dia, fazemos com que tudo não passe de uma grande frustração. Aprendi a ser grata, cada vez mais grata, pela vida, pelo ar que respiro (mesmo poluído), se tá ruim, pense comigo e logo verá que poderia estar pior! Então agradeça pelo que tem! 
Eu poderia passar uma eternidade aqui falando sobre as cores das flores, as sensações de uma trilha (não é só cansaço rs) ou a beleza e a força dos animais mas acho que você já entendeu o espírito da coisa, né?! 





Mudei comigo mesma

Quando adolescente não dava um passo se não fosse acompanhada! Uma simples ida ao mercado ou ao centro comercial do meu bairro se tornava uma odisseia pois precisava percorrer a casa de todas as minhas amigas e amigos pra ver qual deles estaria disponível pra ir comigo.
Nunca me imaginei viajando sozinha, na verdade nem morando sozinha... Sempre colocava a desculpa: "Ah eu falo demais! Vou acabar pirando se ficar muito tempo sozinha... rsrsr"
Mas o fato é que a vida me trouxe até aqui pra me provar o contrário!
Hoje, escrevendo no blog minhas primeiras viagens, percebo o quanto mudei nesse sentido. Foi libertador estar longe de casa, sozinha, com total autonomia do que, quando e como fazer as coisas, decidir roteiros, mudar de ideia na hora, sentar pra comer num restaurante sozinha e se achar uma ótima companhia. Te afirmo com categoria o quanto me fez ser mais segura e me amar mais esse relacionamento comigo mesma.
Claro que gosto de viajar com meus amigos também, mas sozinha me fez crescer muito, colocar os pensamentos em ordem e ter momentos de introspecção não faz mal a ninguém.
Sozinha pude fazer novas amizades, tentar falar um idioma que não domino sem medo de pagar mico, gerenciar os perrengues da viagem, mantendo a calma e aprendendo a criar planos B, C, D e E rapidamente sempre que a situação pedir. 
Hoje, no dia a dia, trouxe cada um desses aprendizados comigo... sou mais paciente, penso mais antes de agir, busco soluções para os antes chamados "problemas indissolúveis" da vida e se tenho vontade de ir ao cinema, teatro ou viajar e ninguém pode ir, não penso duas vezes: VOU!






Mudei com o meu próximo

Podemos passar a vida toda indo e vindo de casa pro trabalho, do trabalho pra casa e nem sequer perceber o quanto de gente está ao nosso redor: vemos mas não enxergamos, escutamos mas não ouvimos. O dia a dia nos leva à correria e à satisfação das nossas necessidades em primeiro lugar. 
Quando se está na estrada, compartilhando o quarto no hostel, pegando uma carona, dividindo um miojo ou jogando conversa fora na praia, criamos laços muito mais rápido e esses laços na maioria das vezes são reais e duradouros! 
Quem nunca conheceu alguém numa viagem e  teve a sensação de que conhecia a muito tempo?! Bastante normal... rsrs
E essas pessoas fazem toda a diferença no produto final da viagem, elas são um bônus, somam suas experiências, seu modo de ver o mundo; com elas desenvolvemos a solidariedade, a tolerância, a compreensão.
Nessa jornada você vai se deparar com pessoas muito diferentes de você, costumes, crenças, sotaques, opiniões, e com isso aprendemos a respeitar o próximo, colocar nosso ponto de vista de forma civilizada e a inclusive estar disponível ao debate sem se deixar levar pela opinião de qualquer um, mas ao mesmo tempo estando aberto a mudanças, pois só os tolos são imutáveis!
Dividir o espaço, emprestar seus pertences, aturar o ronco e o chulé do coleguinha, quem tem mania de arrumação aprende a relaxar um pouco, abrimos mão de algumas frescuras...
Quando estou fora, sinto saudades da comidinha de casa, da minha cama, dos meus amigos e familiares, dos meus gatos, e essa saudade só me faz perceber o quanto os amo e valorizá-los ainda mais! Muitas vezes não dizemos que amamos, não demonstramos nosso sentimentos, deixamos pra dar reconhecimento a quem merece depois que perdemos e nesses casos sempre haverá uma pontada de arrependimento, aquele eterno "e se..."
Já diz o velho ditado: "As duas melhores sensações são pé na estrada e a volta pra casa". Aprendi fazer do meu lar e dos meus, um porto seguro, um refúgio, onde sempre cabe mais um!







Não me considero um "obra acabada" ou perto da perfeição... tenho ainda muito que aprender e muito que crescer. Muitas vezes quando achamos que temos todas as respostas a vida vem e muda todas as perguntas.
Nessa construção louca do caminho da vida eu espero sempre aprender cada vez mais, ter sensibilidade para compreender o próximo, humildade para reconhecer meus erros, sabedoria para ensinar o que aprendi de bom e que meus olhos sejam cada dia melhores para enxergar o que há de bom no mundo!
E se você não está satisfeito com o mundo que vive, experimente mudar um pouco, você pode se surpreender com o resultado.


4 comentários:

  1. Belo texto!

    P.S: Tem umas duas ou três fotos aí que pretendo usar para futuros posts do meu futuro blog, ficaram lindas.

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    1. Obrigada! :)

      Pagando direitos autorais pode usar até 10! huahuahuhauhauhauhua

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  2. Que lindo Quel...é exatamente assim que me sinto. Também mudei muito depois que comecei a viajar e ver que o mundo é muito maior do que o caminho trabalho-casa-trabalho

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  3. Que possamos viajar cada vez mais e nos tornar pessoas melhores para nós e para o próximo!

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