No meu último full day em Ilha Grande, resolvi fazer a trilha T14 (Vila de Abraão - Dois Rios), como me sugeriu o casal que conheci no passeio de meia volta na Ilha. Eles já tinham me alestado quando à dificuldade da trilha, então, passei no mercadinho comprei gatorade, água, e levei barra de cereal, maçã e biscoito, porque com fome e sede não dá!
Essa trilha, que na verdade é uma estrada, percorre o caminho do antigo presídio, que agora é o Museu do Cárcere. Possui pontos de subida consideráveis, ideal para quem tem preparo físico (que não é o meu caso! huahua). Importante saber que não é permitido pernoitar em Dois Rios, então nada de levar barraca, querer acampar... Tem uma guarita na entrada que faz o controle de entrada e saída dos visitantes, se você tentar ficar, vão te convidar a se retirar.
O tempo de duração da trilha é de 3 horas aproximadamente, 3 horas de muito desce, sobe, empina e rebola (Eita, Giovanaaa!), muito forninho pra segurar porque é puxadinha mesmo e eu não sou nenhuma miss Fitness, na verdade eu sempre digo para os amigos que vão às trilhas comigo que sou o Ronaldo do grupo: pesado, fora de forma, contundido e ofegante! Mas adoro fazer trilhas e nem a falta de ar vai me impedir!
Durante o percurso, tive tempo de experimentar todas as sensações possíveis: euforia, liberdade, medo, cansaço, dúvida... Como é um percurso longo, deu tempo de ir alternando cada sensação, com momentos de contemplação da natureza, gratidão, devaneios, e muito falar sozinha! Corri atrás de borboletas, fotografei, ou melhor, tentei fotografar pássaros, cantei, tudo sozinha!
Um dia desses assisti o filme "Livre", com Reese Witherspoon, e não teve como não me identificar com a personagem, claro que numa escala beeeeemmm menor, mas me identifiquei nesse dia com a trilha dela. Medos infundados (quando os macacos bugios começaram a berrar, ao ver folhagens se mexendo - peraí... será que estavam se mexendo mesmo ou eu que estava imaginando coisas?! rsrs), medo de pessoas (um único estranho no meio de uma trilha de 3 horas pode acabar como o psicológico rsrs), medo de estar no caminho errado, afinal não chego nunca... Mas o melhor de tudo foi sentir a minha mente tomando o controle da situação cada vez que uma onda de medo, de cansaço, de vontade de desistir tentava se apoderar de mim: YES, WE CAN!
E foi assim, superando todas as adversidades que cheguei ao meu destino: Dois Rios!
A vila de Dois Rios é bucólica e parece que parou no tempo... Casas, igrejas (uma católica e uma evangélica), poucas pensões, ninguém na rua. A maioria dos moradores são funcionários da UERJ, que além da administração do Museu do Cárcere, também administra o Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentado (CEADS). Preferi ir ao museu primeiro pois era um diferencial no passeio e como eu me conheço quando estou num museu, fui direto ao ponto, sem contar que eu teria hora pra voltar.
Isso foi só o começo...
Vila de Abraão lááá embaixo!
Um dos muitos riachos no caminho
Vila de Dois Rios
Museu do Cárcere e EcoMuseu Ilha Grande UERJ
O museu conta com um bom acervo sobre a história do cárcere através das sucessivas unidades prisionais em Ilha Grande, com a vantagem de estar em um dos locais onde se passou esta história que dá mais imersão à experiência. Achei muito interessante pois nunca tinha ido a um museu com essa temática e isso acaba trazendo uma reflexão sobre o sistema carcerário e como essas políticas tem impactado a sociedade.
Também funciona lá o EcoMuseu, com uma exposição onde os moradores locais são os artesãos, usando materiais recicláveis. Móveis, e artigos de decoração com a temática do cotidiano dos moradores, como peixes, redes de pesca, barcos e outros, são provas de que é possível unir beleza, utilidade e sustentabilidade.
E para minha surpresa, mais uma exposição estava acontecendo: Deusas Negras, do artista Sidney Rocha. Lindas obras feitas com técnicas de composição e colagem, retratam e homenageiam a beleza da mulher negra, enquanto promovem uma reflexão a respeito construção da identidade brasileira de miscigenação em paralelo com a técnica utilizada pelo artista. Amei!
Claro que descrevendo assim pra vocês passa bem rápido, mas eu fiquei bastante tempo no museu, li cada relato e informação, e ao final da visita deu fome! Fui para praia fazer meu piquenique solitário.
Museu do Cárcere
Acervo do MuCa
Acervo do MuCa
Exposição do EcoMuseu
Exposição Deusas Negras, qualquer semelhança da foto com a minha pessoa é mera coincidência hauhauhauhaua
Exposição Deusas Negras
Praia de Dois Rios
Praia encantadora, como o nome já diz, tem um rio em cada uma de suas extremidades e olha só que maravilha: você pode se banhar neles! Escolhi o lado direito para conhecer, pois parecia ser o mais bonito olhando à distância. Que maravilha de cenário! Dá pra fazer uma sessão de fotos, uma de meditação, uma de contemplação, ou todas (foi o que eu fiz rsrs), vai do gosto do freguês.
Como é uma praia oceânica, é favorável aos esportes aquáticos, principalmente surf e pesca. O tempo estava quente mas sem sol, preferi não me molhar porque depois teria que fazer a trilha de volta com o biquíni molhado. Então sentei e comi meus lanchinhos vendo o mar bater.
Quando foi se aproximando a hora de ir embora, percebi que tinha um movimento das poucas pessoas que estava na praia em grupo (eu era a única alone) para fazer a volta de barco. Fui me chegando pra saber o preço porque só de pensar em voltar aquilo tudo minhas pernas choravam, e voltando de barco veira outras paisagens (mentira! Eu tava morta mesmo hauhauhua). O dono do barco cobrou quarenta reais por pessoa para nos levar até Pouso e lá teríamos que pegar outro barco para Vila de Abraão. É... vamos ter que colocar as pernocas pra funcionar! hauhauhauhuahua
Voltei mais tranquila e confiante, porém mais cansada e com calor. Numa das paradas para recobrar o fôlego vi uma placa indicando o Poço do Soldado e resolvi entrar na mata para ver a cachoeira. Ahhh que maravilha! Um refrigério! Fiquei lá me refrescando com tudo só pra mim! Depois de me revigorar segui pra trilha porque não sabia em quanto tempo ia fazer tudo e podia escurecer e eu ainda estar na trilha. Achei um cajado maravilhoso, parece que foi feito pra mim e isso ajudou muito! Ouvi um carro vindo, era transporte da UERJ e que vontade de pedir uma carona rsrs, mas aguentei firme e fiz todo o percurso a pé.
Fiquei muito feliz quando cheguei na Vila de Abraão, venci as barreiras e concluí o percurso! Infelizmente não foi dessa vez que subi o Pico do Papagaio, e essa ida a Dois Rios me fez perceber que eu preciso melhorar meu condicionamento físico para realizar tal façanha.
Minha última noite em Ilha Grande foi como todas as demais, passeando na vila, jantando no Restaurante Gabi Biel, ouvindo música ao vivo dos bares e restaurantes, contando estrelas na praia, pensando na vida no pier, vendo a lua sair de trás da montanha, falando com meu futuro namorado pelo SMS (sim eu sou arcaica hauhaua)... Acho que tinha alguém se apaixonando mesmo que à distância hein... <3
Chegando
A praia
Um dos rios
Que meigo esse balanço!
Poço do Soldado
Enfim, Ilha Grande é tudo de bom, mágica, exuberante e apaixonante!